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Lean Manufacturing — história e casos práticos da Toyota

01 Nov 2021
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“The Toyota Way” — a filosofia Lean surge nas fábricas do construtor japonês de automóveis, a Toyota, e os seus princípios têm eco nos valores fundamentais da marca. O seu sistema produtivo seria grandemente responsável por transformar a Toyota num dos maiores e mais eficientes produtores automóveis do Mundo.

Autor:
Rui Ferreira
Director de Produtividade da SGS Portugal

Origem do Sistema de Produção da Toyota

Setembro de 1945 assistiu ao fim da Segunda Guerra Mundial. Do lado dos vencidos, e poucas semanas após a largada das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, o Japão encontrava-se económica e socialmente destroçado. Depois de ter dominado parte da Ásia, o Japão estava então parcialmente ocupado pelas forças aliadas (entre 1945 e 1952), e além dos prejuízos próprios resultantes do esforço de guerra e dos bombardeamentos aliados, o país enfrentaria ainda pesados encargos com as reparações de guerra devidas aos países vencedores e ocupados.

Foi neste contexto, largamente desfavorável — ainda que brevemente contrariado por apoios da comunidade internacional para a reconstrução do país e por medidas governativas, como a diminuição de impostos — que a Toyota sentiu a necessidade de buscar maior eficiência produtiva, eliminando completamente desperdícios de qualquer ordem. Estavam lançadas as bases do Sistema de Produção da Toyota (Toyota ProductionSystem, ou TPS, na sua sigla inglesa).

Princípios fundamentais do Sistema de Produção da Toyota

Embora a origem da filosofia Lean possa ser traçada até finais do século XIX, ao tear automatizado de Sakichi Toyoda, cuja inovação se baseava na capacidade para identificar erros e assim evitar desperdícios na produção, foram Taiichi Ohno, então Vice-Presidente da Toyota, e Eiji Toyoda que, no período do pós-guerra, desenvolveram o sistema. Foi na Fábrica de Maquinaria de Honsha, localizada na província de Chūbu (Japão Central), que os fundamentos do Sistema de Produção da Toyota foram primeiramente estabelecidos e testados.

O objetivo da implementação do Sistema de Produção da Toyota era:

  • reduzir custos
  • manter a qualidade
  • maximizar a capacidade produtiva
  • ganhar uma vantagem competitiva

O Sistema de Produção da Toyota assentava na compreensão e tentativa de resolução de três problemas fundamentais, identificados pelos seus termos japoneses: “muda”, “mura” e “muri”. 

Lean Muda

Muda — Desperdícios 

Por “muda”, entende-se qualquer atividade que consuma recursos sem criar valor para o cliente. Bons exemplos são uma unidade fabril em que, por mau planeamento, o circuito feito por componentes necessários à fabricação, ou até pelos operadores humanos, não está optimizado, resultando em tempo perdido; ou a má-execução de determinadas tarefas, obrigando à sua repetição e traduzindo-se em gastos com recursos e tempo. 

Exemplo prático da Toyota: Em finais dos anos 40, com o objetivo de reduzir desperdícios com a inatividade de trabalhadores em momentos de pouca procura, a disposição das máquinas foi alterada na fábrica de Honsha — a sua colocação em paralelo ou em forma de L permitia a um trabalhador operar várias máquinas em simultâneo, aumentando a produtividade enquanto reduzia o número de trabalhadores necessário. Este foi um momento decisivo para a Toyota, já que no pós-guerra os recursos eram escassos e o volume de procura baixo. Era, portanto, necessário utilizar recursos de forma racional e produzir apenas as unidades efetivamente requisitadas.

Lean Mura

Mura — Inconsistência

A falta de regularidade numa unidade produtiva causada por falhas no sistema ou por mau planeamento podem resultar em perdas de eficiência. Imagine-se uma linha de montagem onde os trabalhadores são obrigados a momentos de espera, por exemplo, pela irregularidade no fornecimento de componentes. Essa ineficiência significa um aumento do custo, pelo tempo laboral onde não há efetivamente um resultado produtivo. A irregularidade nas operações pode também aumentar os custos (e tempos) associados ao transporte de componentes ou de produtos finalizados, ao não permitir aproveitar a capacidade máxima das operações de transporte. 

Exemplo prático da Toyota:Nos anos 70, com o grande boom na procura de veículos motorizados, tornou-se necessário aumentar a capacidade de produção — foram então introduzidas máquinas de alta-velocidade capazes de produzir em massa, mas sempre numa abordagem “just-in-time”. Bom exemplo foi a introdução, em 1975, de maquinaria mais simples para assegurar um fluxo contínuo de produção. Ao invés de utilizar grandes e complexas máquinas de pintura, que recebiam e pintavam um grande número de componentes por lote, maquinaria de pintura mais simples foi introduzida em cada linha de montagem, permitindo tratar cada produto de forma contínua e sem interrupções.

Lean Muri

Muri — Sobrecarga/Excesso 

Quer ao nível dos seus operadores humanos quer ao nível dos próprios equipamentos, o esforço em excesso não só é prejudicial à saúde dos trabalhadores e ao bom desempenho (ou até à longevidade) da maquinaria envolvida como pode, inclusive, ser causador de acidentes muito prejudiciais a uma unidade, quer pelos custos humanos envolvidos como pelos danos causados aos equipamentos, podendo ainda traduzir-se numa perda de produtos já prontos. 

Exemplo prático da Toyota:O sistema Kanban foi introduzido logo em 1948, no já referido contexto do pós-guerra, recorrendo a cartões que acompanhavam ora as peças produzidas ora os pedidos de produção. A Toyota garantia, assim, que apenas os componentes necessários a cada processo produtivo eram transportados e processados, evitando quer a acumulação de peças que ainda não eram necessárias quer a produção em excesso. De igual modo, a gestão de stocks tornava-se também mais eficaz, já que, após a entrega, um cartão Kanban era devolvido ao armazém, informando os seus operadores do exato número de peças utilizado e, consequentemente, do exato número de peças a ser novamente fornecido. 

Todos estes conceitos encontram sustentação numa noção mais alargada de “just-in-time”, expressão muitas vezes usada para denominar o Sistema de Produção da Toyota. Este corresponde à ideia de que, numa unidade fabril, se deve fazer apenas o que é necessário, apenas quando necessário, e apenas na quantidade necessária. Esta adequação perfeita entre ação, tempo e volume seria a forma de evitar desperdícios e maximizar a produção. O sistema preconizava, ainda, uma clara noção de autonomia (“jidoka”), considerando que a automatização beneficia do toque humano como garantia da produção sem defeitos. Quatro princípios orientavam a noção de jidoka, largamente baseados na inspeção e controlo visual da produção: 

  1. Descoberta de um problema ou defeito; 
  2. Interrupção do processo produtivo; 
  3. Resolução do problema imediato; 
  4. Investigação e resolução da causa. 

O grande objetivo era evitar que uma linha de produção continuasse a produzir peças defeituosas — resultando em desperdícios de tempo e de recursos (onde ecoam novamente as noções de “muda”, “mura” e “muri”, originando perdas avultadas para a empresa

The Toyota Way 

Depois de múltiplos testes na fábrica de Honsha, o alargamento do sistema a todas as fábricas do grupo viria a acontecer em 1960.

Como demonstrado acima, a Toyota tem sabido adaptar e inovar os seus sistemas de produção ao longo dos tempos. Grupos de estudo e formação foram realizados em todo o Grupo Toyota durante o final dos anos 70 e início dos anos 80, com o objetivo de expandir ainda mais a aplicação dos seus conceitos fundadores. 

Desde finais da década de 80 e inícios da década de 90, o Sistema de Produção da Toyota foi adoptado e adaptado em diferentes culturas, a reboque da grande globalização da Toyota, tendo sido introduzidas várias inovações para acomodar os por vezes longos períodos de aquisição de peças locais. O Sistema de Produção da Toyota continua, hoje em dia, a tratar de novas questões sob a designação de “The Toyota Way". 

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